domingo, 27 de maio de 2012

Foram anos de mau humor. Constantemente irritada, a jornalista Cristina David, de 47 anos, perdeu três empregos e conquistou poucos amigos ao longo da vida. Transformava problemas comuns da rotina diária em tempestades. “Com 14 anos comecei a sentir muita irritação, mas quando fiz 18 anos a situação piorou. Comecei a reclamar de tudo, me irritava quando levantava para trabalhar. Se eu perdesse uma vaga para estacionar o carro já ficava mal o dia inteiro”.


O caso de Cristina não é um simples comportamento, uma “personalidade forte” como diriam alguns. A jornalista é portadora de Distimia, uma depressão crônica e moderada, cujos sintomas são contínuos por mais de dois anos. Assim como no caso dela, o alívio das manifestações de mau humor só é possível com uma combinação de medicamentos com psicoterapia.

“Com o tratamento a gente muda completamente, o remédio ajuda muito. Antes era difícil, eu não entendia o que acontecia, achava que eu era daquele jeito e pronto”.

A médica psiquiatra Ana Hounie, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, explica que a Distimia é um quadro depressivo mais suave. “Em estudos, foram dados antidepressivos para essas pessoas. Uma boa parte delas melhorou, demonstrando que era doença e não algo da personalidade, já que a personalidade é imutável”

Segundo a médica, pessoas com a doença tem um humor flutuante, mas dificilmente conseguem ficar mais de um mês de bem com a vida. São insatisfeitas, negativas e muito críticas. Manter relacionamentos torna-se complicado. “Em geral são pessoas mais ácidas, sarcásticas e irritadas. E possuem alguns sintomas da linha depressiva: comem demais ou têm falta de apetite, têm insônia ou sonolência excessiva”, diz a psiquiatra.

O distímico só enxerga o lado negativo do mundo e dificilmente sente prazer em algo. Não basta a solução de um problema, ele continua remoendo o fato. Imagine uma pessoa que ganha na loteria, mas pensa que pode ser assaltada ou sequestrada.

Todas as idades
A Distimia, reconhecida pela medicina nos anos 80, pode começar ainda na infância, afetar adultos e idosos. A prevalência é maior entre as mulheres. Existe uma tendência genética: na família do paciente, normalmente, outras pessoas têm depressão e transtornos de humor.

Como acontece na depressão profunda, existe um desequilíbrio químico nos neurotransmissores em regiões do cérebro que comandam o humor, como o sistema límbico, o hipotálamo e o lobo frontal.

A estimativa é de que quase 200 milhões de pessoas no mundo tenham Distimia. Aproximadamente 30% delas tem risco maior de sofrer quadros depressivos mais graves.

Ana Hounie ressalta que nem todas as pessoas mal-humoradas são doentes. Outros motivos precisam ser levados em conta, como o convívio em um ambiente conturbado. “No caso da Distimia, o mal humor tem que ser crônico e sem motivo, sem justificativa. É uma pessoa que tem dinheiro, relacionamento, tudo o que precisa, e mesmo assim está sempre irritada”.

Para a especialista, quem tem os sintomas deve procurar ajuda médica. “Muitos acham que é o jeito de ser, que é assim e pronto. Mas é doença, e se pode melhorar com remédio, vale a pena tratar”.

Sintomas
- Irritabilidade
- Mau humor
- Baixa auto-estima
- Desânimo e tristeza
- Predominância de pensamentos negativos
- Alterações do apetite e do sono
- Falta de energia para agir
- Isolamento social

Maurício Martins
Fonte: Jornal A Tribuna

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