Foram anos de mau humor. Constantemente irritada, a
jornalista Cristina David, de 47 anos, perdeu três empregos e conquistou
poucos amigos ao longo da vida. Transformava problemas comuns da rotina
diária em tempestades. “Com 14 anos comecei a sentir muita irritação,
mas quando fiz 18 anos a situação piorou. Comecei a reclamar de tudo, me
irritava quando levantava para trabalhar. Se eu perdesse uma vaga para
estacionar o carro já ficava mal o dia inteiro”.
O caso de
Cristina não é um simples comportamento, uma “personalidade forte” como
diriam alguns. A jornalista é portadora de Distimia, uma depressão
crônica e moderada, cujos sintomas são contínuos por mais de dois anos.
Assim como no caso dela, o alívio das manifestações de mau humor só é
possível com uma combinação de medicamentos com psicoterapia.
“Com
o tratamento a gente muda completamente, o remédio ajuda muito. Antes
era difícil, eu não entendia o que acontecia, achava que eu era daquele
jeito e pronto”.
A médica psiquiatra Ana Hounie, do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, explica que a
Distimia é um quadro depressivo mais suave. “Em estudos, foram dados
antidepressivos para essas pessoas. Uma boa parte delas melhorou,
demonstrando que era doença e não algo da personalidade, já que a
personalidade é imutável”
Segundo a médica, pessoas com a doença
tem um humor flutuante, mas dificilmente conseguem ficar mais de um mês
de bem com a vida. São insatisfeitas, negativas e muito críticas.
Manter relacionamentos torna-se complicado. “Em geral são pessoas mais
ácidas, sarcásticas e irritadas. E possuem alguns sintomas da linha
depressiva: comem demais ou têm falta de apetite, têm insônia ou
sonolência excessiva”, diz a psiquiatra.
O distímico só enxerga o
lado negativo do mundo e dificilmente sente prazer em algo. Não basta a
solução de um problema, ele continua remoendo o fato. Imagine uma
pessoa que ganha na loteria, mas pensa que pode ser assaltada ou
sequestrada.
Todas as idades
A Distimia,
reconhecida pela medicina nos anos 80, pode começar ainda na infância,
afetar adultos e idosos. A prevalência é maior entre as mulheres. Existe
uma tendência genética: na família do paciente, normalmente, outras
pessoas têm depressão e transtornos de humor.
Como acontece na
depressão profunda, existe um desequilíbrio químico nos
neurotransmissores em regiões do cérebro que comandam o humor, como o
sistema límbico, o hipotálamo e o lobo frontal.
A estimativa é de
que quase 200 milhões de pessoas no mundo tenham Distimia.
Aproximadamente 30% delas tem risco maior de sofrer quadros depressivos
mais graves.
Ana Hounie ressalta que nem todas as pessoas
mal-humoradas são doentes. Outros motivos precisam ser levados em conta,
como o convívio em um ambiente conturbado. “No caso da Distimia, o mal
humor tem que ser crônico e sem motivo, sem justificativa. É uma pessoa
que tem dinheiro, relacionamento, tudo o que precisa, e mesmo assim está
sempre irritada”.
Para a especialista, quem tem os sintomas deve
procurar ajuda médica. “Muitos acham que é o jeito de ser, que é assim e
pronto. Mas é doença, e se pode melhorar com remédio, vale a pena
tratar”.
Sintomas
- Irritabilidade
- Mau humor
- Baixa auto-estima
- Desânimo e tristeza
- Predominância de pensamentos negativos
- Alterações do apetite e do sono
- Falta de energia para agir
- Isolamento social
Maurício Martins
Fonte: Jornal A Tribuna
Nenhum comentário:
Postar um comentário